A
direção do INPE não explicou a falta de investimentos
Por
Shirley Marciano
Na
edição anterior do Jornal do SindCT (nº 13, pág. 7), foram
abordados diversos questionamentos com relação à compra, no final
de 2008, do Sistema de Atitude e Órbita da empresa estatal argentina
INVAP, com dispensa de licitação no valor de R$ 47,5 milhões. Até
o momento, o INPE não se posicionou. Assim, o SindCT volta a
solicitar esclarecimentos ao Instituto, agora através do seu novo
diretor Leonel Perondi. Por
que se desconsiderou a tentativa em curso de desenvolver o subsistema
no INPE, através de seus pesquisadores?
Por que se cancelou a
possibilidade de compra do subsistema, por meio de licitação, na
qual os consórcios eram compostos por empresas brasileiras, em
parceria com estrangeiras? Por que a INVAP, empresa que não possui
tradição na venda de sistemas inerciais, foi escolhida? Ao ser
questionado sobre o assunto, em entrevista concedida ao jornal O Vale
(09/05/2012), Gilberto Câmara, que já era diretor do INPE à época,
justifica: “Havia quatro empresas brasileiras associadas a quatro
empresas internacionais.
Quando
a Justiça suspendeu o edital pela quarta vez, nós concluímos que o
que a gente tentava fazer não estava funcionando. As licitações
não andavam porque não tinha uma empresa nitidamente melhor e todas
entravam na licitação, uma para derrubar a outra.”
A
decisão de comprar da INVAP
O Jornal do SindCT
conversou com o pesquisador Valdemir Carrara, que na época era
responsável pelo Sistema de Atitude e Órbita, para que sejam
esclarecidos alguns pontos sobre o assunto. Ele conta que houve
diversas tentativas para desenvolver a tecnologia no INPE, mas não
houve os investimentos necessários para se equipar um laboratório
com sistemas de controle similares àqueles empregados em satélites
e, assim, viabilizar as pesquisas.
Em
2005, quando a direção do instituto se empenhou para que o sistema
de controle fosse desenvolvido no próprio INPE, formou-se uma equipe
de cinco pessoas para atuar neste projeto. Foi então produzido um
plano que apontava claramente para a necessidade de aumento
substancial no efetivo de pessoal para se atingir os resultados
dentro do cronograma.
Falta
de recursos humanos
Assim, Carrara expediu um memorando
interno que apontava a falta de pessoal qualificado na quantidade
necessária ao projeto. Nele continha uma constatação de que seriam
necessários cerca de 27 anos para concluir o sistema com a equipe
envolvida, caso não houvesse a adição de novos recursos humanos.
“Fiz
o memorando interno no qual relatei tecnicamente a preocupação com
a carência de recursos humanos. A ideia foi chamar a atenção para
o ponto fundamental, que era a necessidade urgente de agregar pessoal
para viabilizar o projeto da PMM (Plataforma Multi-Missão)”,
explica.
Curiosamente, este memorando é usado para consubstanciar
a tese de que o subsistema de controle deveria ser comprado pronto,
ou seja, que os pesquisadores do Instituto seriam incapazes de
desenvolvê-lo.
“Acredito
que temos o conhecimento e a tecnologia necessária para efetuar este
desenvolvimento. Basta contarmos com os recursos necessários”,
afirma Carrara.
Outro
dado a ser destacado é que em 2005 foi apresentado um cronograma de
dois anos para esse projeto. Ou seja, já se foram sete e ainda não
foi entregue. Se o prazo fosse o mais importante, possivelmente o
subsistema já estaria pronto e a conta sobre o número de pessoal
seria bem diferente. Finalmente, no final de 2008, a direção do
INPE, através de uma dispensa de licitação, adquiriu o subsistema
da empresa estatal argentina INVAP.
De
acordo com o pesquisador, mesmo sendo o responsável pelo sistema de
controle de atitude, ele não participou do processo de compra da
fornecedora estatal argentina.
A
importância do domínio das tecnologias críticas
O
domínio de tecnologias críticas é fundamental para qualquer país,
organização pública ou empresa, que tenha como missão atuar na
área espacial. Quem as produz não as transfere para continuar
vendendo e não criar concorrência.
O domínio da tecnologia de
Sistema de Controle de Atitude e Órbita é de inquestionável
importância, pois proporcionará ao Programa Espacial Brasileiro
autonomia, custos menores e economia de tempo, entre outros
benefícios. Atualmente, a Embraer compra esse sistema dos EUA, ao
passo que, se fosse desenvolvido no Brasil, poderia ser produzido nas
indústrias nacionais, sem precisar importar.
Sistema
de Atitude e Órbita: O cérebro de um satélite
A
câmera de um satélite precisa de auxílio para capturar imagens de
uma região previamente definida sobre a Terra. Além disso, a órbita
degrada com o tempo e o satélite tende a sair do lugar. Um satélite
nas órbitas baixas (750km) pode cair até alguns metros por dia.
Sendo assim, a posição orbital precisa ser corrigida sempre e, para
isso, tem que existir um sistema que coloque o satélite de volta em
sua posição e que o oriente em relação à Terra.
O
Sistema de Controle de Atitude e Órbita utiliza sensores que
identificam o apontamento real do satélite, e o compara com a
referência (para onde se quer apontar) no computador de bordo, que
então aciona atuadores para efetuar a correção. Este sistema é
considerado o cérebro de um satélite, mas o Programa Espacial
Brasileiro nunca fabricou um por não investir em sua tecnologia.
(Para
SindCT, 14)
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