terça-feira, 1 de maio de 2012

SGB: Previsão de lançamento em 2014


Por Shirley Marciano

Programa Espacial sem telecomunicação não se justifica”
O satélite, que tem previsão para ser lançado no final de 2014, a um custo estimado de R$ 715 milhões, deve ser construído pela sociedade formada entre Telebrás (49%) e Embraer (51%), que terá a função de contratar fornecedores para o satélite e também para o lançador. A Telebrás é a responsável geral pela coordenação do projeto, juntamente com os ministérios das Comunicações, da Defesa e da Ciência e Tecnologia, a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

A ideia é que esse seja o primeiro de vários satélites para banda larga, de acordo com declarações feitas pelo ministro Marco Antonio Raupp à imprensa. Este satélite deverá ser operado pela Telebrás e pelo Ministério da Defesa. O geoestacionário será acessado diretamente por provedores de serviço de internet (ISP) que, por sua vez, atenderão aos usuários individuais seguindo as diretrizes e custos estabelecidos pelo Plano Nacional de Banda Larga. Assim farão a distribuição do sinal via rede terrestre ou 3G (no futuro, 4G). A 3G funciona via antenas no solo, que se comunicam diretamente com celulares ou modems. “A grande vantagem de um satélite de telecomunicação é você não precisar ter uma rede terrestre para alcançar um município que fica em um lugar longínquo e de difícil acesso”, afirma José Nivaldo Hinckel, pesquisador do INPE.

O novo satélite terá uma faixa de frequência bem maior que a encontrada na internet via satélite comum. A faixa maior de frequência é um fator importante para a oferta de serviços de alta velocidade. Para Hinckel, há muito tempo já deveria ter sido lançado um satélite geoestacionário.

“No Brasil só se tem feito imagens, mas não adianta porque só isso não justifica o programa espacial brasileiro”, acrescenta. De acordo com ele, o Brasil, pelo seu tamanho, população e perfil, tem grande potencial de usuários.


Então, só por este aspecto, já se justifica o interesse do governo brasileiro de ter uma autonomia maior na produção e operação de satélites geoestacionários de telecomunicação. “O Brasil tem recursos econômicos razoáveis. Se investir com continuidade, com certa intensidade e perseverança, ele terá condições de realizar com êxito muitos outros projetos espaciais dessa natureza”, finaliza.

O que é satélite geoestacionário
O nome geoestacionário é dado por serem colocadas em uma órbita sobre o equador de tal maneira que o satélite tenha um período de rotação igual ao do planeta Terra, ou seja, 24 horas. Assim, a velocidade angular de rotação do satélite fica igual ao da Terra e a impressão que se tem é a de que o satélite está parado no espaço na perspectiva de quem está na Terra. O mínimo de velocidade para que um satélite entre em órbita são 28.000km/h. Com essa velocidade, se posicionarmos o satélite a 36.000 Km de altitude, acima do equador, ele fi cará numa órbita geoestacionária. O satélite, que possui a missão de transmitir, é uma simples estação repetidora dos sinais recebidos da Terra que são detectados, deslocados em frequência, amplificados e repassados de volta à Terra.


40 ANOS de história: Telecomunicações no Brasil
Em 1962 foi criado o Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT). À época, havia apenas uma linha telefônica para cada 100 habitantes. Entre as novidades que se destacam no Código, estava a determinação para a formação de uma empresa estatal para instalar e operar troncos de comunicação delonga distância, fato que resultou, três anos depois, na criação da Embratel.


Entre 1967 e 1972, a empresa ligou as principais cidades das cinco regiões do país, permitindo, por meio da discagem direta à distância (o DDD), a ligação entre os principais municípios brasileiros. A expansão da telefonia fixa urbana começou em 1972, quando o governo criou a Telebrás, empresa holding da Embratel e de um sistema nacional de empresas-pólo estaduais, que absorveram as pequenas companhias telefônicas municipais. 

Na radiodifusão, esse mesmo esforço viabilizou a formação de redes de TV, com a fi liação da Embratel ao consórcio de satélites Intelsat, período que consolidou no setor um modelo baseado na exploração privada dos serviços, sob a liderança e hegemonia do grupo Globo.

Nos anos 90, no Brasil, houve a privatização do setor, com o consequente desmonte do Sistema Telebrás, a partir da aprovação do Programa Nacional de Desestatização (Lei 8.031/90).

Em 1995, Fernando Henrique Cardoso propôs o Congresso Nacional aprovou a EC nº 8, alterando a Constituição Federal de 1988. Com a mudança, tornou-se possível a abertura da exploração dos serviços públicos de telecomunicações ao capital privado, colocando fi m a um monopólio estatal.

(Para SindCT, 14)

Subsistema poderia ter sido desenvolvido no país


A direção do INPE não explicou a falta de investimentos

Por Shirley Marciano

Na edição anterior do Jornal do SindCT (nº 13, pág. 7), foram abordados diversos questionamentos com relação à compra, no final de 2008, do Sistema de Atitude e Órbita da empresa estatal argentina INVAP, com dispensa de licitação no valor de R$ 47,5 milhões. Até o momento, o INPE não se posicionou. Assim, o SindCT volta a solicitar esclarecimentos ao Instituto, agora através do seu novo diretor Leonel Perondi. Por que se desconsiderou a tentativa em curso de desenvolver o subsistema no INPE, através de seus pesquisadores? 

Por que se cancelou a possibilidade de compra do subsistema, por meio de licitação, na qual os consórcios eram compostos por empresas brasileiras, em parceria com estrangeiras? Por que a INVAP, empresa que não possui tradição na venda de sistemas inerciais, foi escolhida? Ao ser questionado sobre o assunto, em entrevista concedida ao jornal O Vale (09/05/2012), Gilberto Câmara, que já era diretor do INPE à época, justifica: “Havia quatro empresas brasileiras associadas a quatro empresas internacionais.

Quando a Justiça suspendeu o edital pela quarta vez, nós concluímos que o que a gente tentava fazer não estava funcionando. As licitações não andavam porque não tinha uma empresa nitidamente melhor e todas entravam na licitação, uma para derrubar a outra.”

A decisão de comprar da INVAP
O Jornal do SindCT conversou com o pesquisador Valdemir Carrara, que na época era responsável pelo Sistema de Atitude e Órbita, para que sejam esclarecidos alguns pontos sobre o assunto. Ele conta que houve diversas tentativas para desenvolver a tecnologia no INPE, mas não houve os investimentos necessários para se equipar um laboratório com sistemas de controle similares àqueles empregados em satélites e, assim, viabilizar as pesquisas.

Em 2005, quando a direção do instituto se empenhou para que o sistema de controle fosse desenvolvido no próprio INPE, formou-se uma equipe de cinco pessoas para atuar neste projeto. Foi então produzido um plano que apontava claramente para a necessidade de aumento substancial no efetivo de pessoal para se atingir os resultados dentro do cronograma.
Falta de recursos humanos
Assim, Carrara expediu um memorando interno que apontava a falta de pessoal qualificado na quantidade necessária ao projeto. Nele continha uma constatação de que seriam necessários cerca de 27 anos para concluir o sistema com a equipe envolvida, caso não houvesse a adição de novos recursos humanos.

Fiz o memorando interno no qual relatei tecnicamente a preocupação com a carência de recursos humanos. A ideia foi chamar a atenção para o ponto fundamental, que era a necessidade urgente de agregar pessoal para viabilizar o projeto da PMM (Plataforma Multi-Missão)”, explica.

Curiosamente, este memorando é usado para consubstanciar a tese de que o subsistema de controle deveria ser comprado pronto, ou seja, que os pesquisadores do Instituto seriam incapazes de desenvolvê-lo.

Acredito que temos o conhecimento e a tecnologia necessária para efetuar este desenvolvimento. Basta contarmos com os recursos necessários”, afirma Carrara.

Outro dado a ser destacado é que em 2005 foi apresentado um cronograma de dois anos para esse projeto. Ou seja, já se foram sete e ainda não foi entregue. Se o prazo fosse o mais importante, possivelmente o subsistema já estaria pronto e a conta sobre o número de pessoal seria bem diferente. Finalmente, no final de 2008, a direção do INPE, através de uma dispensa de licitação, adquiriu o subsistema da empresa estatal argentina INVAP.

De acordo com o pesquisador, mesmo sendo o responsável pelo sistema de controle de atitude, ele não participou do processo de compra da fornecedora estatal argentina.

A importância do domínio das tecnologias críticas
O domínio de tecnologias críticas é fundamental para qualquer país, organização pública ou empresa, que tenha como missão atuar na área espacial. Quem as produz não as transfere para continuar vendendo e não criar concorrência.

O domínio da tecnologia de Sistema de Controle de Atitude e Órbita é de inquestionável importância, pois proporcionará ao Programa Espacial Brasileiro autonomia, custos menores e economia de tempo, entre outros benefícios. Atualmente, a Embraer compra esse sistema dos EUA, ao passo que, se fosse desenvolvido no Brasil, poderia ser produzido nas indústrias nacionais, sem precisar importar.

Sistema de Atitude e Órbita: O cérebro de um satélite
A câmera de um satélite precisa de auxílio para capturar imagens de uma região previamente definida sobre a Terra. Além disso, a órbita degrada com o tempo e o satélite tende a sair do lugar. Um satélite nas órbitas baixas (750km) pode cair até alguns metros por dia. Sendo assim, a posição orbital precisa ser corrigida sempre e, para isso, tem que existir um sistema que coloque o satélite de volta em sua posição e que o oriente em relação à Terra.

O Sistema de Controle de Atitude e Órbita utiliza sensores que identificam o apontamento real do satélite, e o compara com a referência (para onde se quer apontar) no computador de bordo, que então aciona atuadores para efetuar a correção. Este sistema é considerado o cérebro de um satélite, mas o Programa Espacial Brasileiro nunca fabricou um por não investir em sua tecnologia.
(Para SindCT, 14)






ENTREVISTA: Técnico do INPE analisa desenvolvimento do Subsistema de Propulsão



Falta vontade política para se investir em tecnologia nacional

Por Shirley Marciano

Queremos e temos capacidade para produzir equipamentos de alta tecnologia, o que falta é vontade política”, diz Heitor Patire Júnior, responsável técnico pelo Subsistema de Propulsão da Plataforma Multimissão (PMM), do Satélite Amazônia-1, sob a responsabilidade do INPE. Heitor é doutor pelo ITA na área de Energia, especializado em Energia Térmica.
Jornal do SindCT: Que benefícios o Programa Espacial Brasileiro pode trazer para a sociedade?
Heitor Patire Júnior: Muitos benefícios. Quando um projeto é desenvolvido em institutos de pesquisa como o INPE, tendo ou não parceria com empresas nacionais, o país detém o conhecimento das tecnologias aplicadas, podendo ser usadas em outros produtos na indústria, através da transferência do conhecimento.
No caso da aplicação espacial, os produtos requerem processos com precisão e materiais que geralmente suportem ambientes com condições muito adversas. No entanto, o conhecimento dessas técnicas pode e já é utilizado por diversas áreas, como, por exemplo, indústria de alimentos, instrumentos médicos e ópticos, robótica, conformação e soldagem de materiais de liga especial, aviação, automobilística e muitas outras áreas.

Jornal do SindCT: Mas como ocorre a transferência desse conhecimento para as indústrias brasileiras? Essas tecnologias são vendidas?
Heitor Patire Júnior: A indústria nos procura para treinamento de mão de obra em nossos cursos de pós-graduação ou uso de nossos laboratórios para testes de seus produtos, como ocorre no LIT; ou quando tem alguma dificuldade tecnológica em seus produtos. O INPE treina e ajuda fazendo a transferência do conhecimento. No máximo, ocorre a reposição financeira dos materiais e energia consumidos, mas não existe qualquer lucro.

Jornal do SindCT: Na sua visão, qual a importância de desenvolver tecnologia nacionalmente?
Heitor Patire Júnior: Quando um país desenvolve a sua tecnologia pode vender com um valor agregado muito mais alto. É o caso dos países desenvolvidos que sempre investiram em tecnologia e que vendem os seus produtos para o mundo todo, mas jamais transferem o seu conhecimento por um óbvio motivo: vender sempre e não criar concorrência. É assim que pensa qualquer empresa ou país que detém conhecimento.

Jornal do SindCT: Em que nível você considera que o Brasil está em termos de desenvolvimento tecnológico na área espacial?
Heitor Patire Júnior: Entre os BRICs nós somos os últimos. O Brasil peca muito por não investir adequadamente em seus pesquisadores, valorizando-os com bom salário, com verba sem interrupções para projetos de pesquisa e desenvolvimento. Se não tem um bom salário, esse pesquisador vai embora para a universidade, indústria ou para fora do país procurar melhores condições. Com relação à verba para desenvolvimento de projeto, a falta de investimento consistente realmente é algo difícil de se entender para um país que possui um discurso de fazer pesquisa espacial.
Veja a questão da compra do subsistema de atitude e órbita da empresa Argentina INVAP. Por que não deixaram os pesquisadores do INPE desenvolver? O que teria faltado? Conhecimento? Certamente que não, pois, com toda certeza, os pesquisadores do INPE sabem fazer. Seria dinheiro? Também não foi, porque compraram o subsistema da empresa da Argentina por R$ 47, 5 milhões. Para ser justo, se tivesse usado esse mesmo recurso, contratando mais pessoas para esta equipe, equipando os laboratórios e comprado os equipamentos que faltavam, certamente teriam um produto muito melhor do que esse que será entregue pela estatal Argentina INVAP.
Sobretudo, haveria domínio deknow how na área, gerando uma autonomia para que nunca mais precisasse comprar este tipo de equipamento fora do Brasil. Poderíamos fabricá-los nas indústrias nacionais para utilizar nas várias aplicações que usam esse produto, como aviões, robôs, satélites, foguetes e muitos outros. A única explicação que é possível chegar é a de que ainda falta muita vontade política e patriotismo.

Jornal do SindCT: Se você estivesse falando agora com o ministro de Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, o que diria a ele sobre essa questão acima abordada?
Heitor Patire Júnior: Gostaria que houvesse comprometimento desse governo para investir mais nos nossos institutos. Queremos e temos capacidade para produzir equipamentos de alta tecnologia. Precisamos que haja condições equilibradas para chegarmos a este fi m, ou seja, planejar as contratações necessárias, com tempo para treinar os novos funcionários concursados, comprar os equipamentos para os projetos, investir nos laboratórios e, sobretudo, dar continuidade financeira nas pesquisas, pois estas devem ser constantes e evolutivas. Quando uma pesquisa ou projeto é paralisado, automaticamente começamos a regredir, pois existem muitos profissionais pesquisando no mundo inteiro os mesmos produtos e equipamentos e, fatalmente, ficaremos para trás.

Jornal do SindCT: Por favor, ajude os leitores do jornal que não estão familiarizados com o tema a compreender o seu trabalho. O que é um Subsistema de Propulsão?
Heitor Patire Júnior: O Subsistema de Propulsão é o que proporciona o empuxo (força do líquido sobre um corpo), necessário para correções de atitude e órbita em um satélite. Ele é composto por um conjunto de equipamentos: tanque de combustível, tubulações, válvulas de controle e propulsores. Este subsistema faz parte da Plataforma Multi-missão (PMM) que é parte integrante do satélite Amazônia-1, com previsão para ser lançado em 2014.

Jornal do SindCT: Já houve experiências anteriores com relação ao Subsistema de Propulsão?
Heitor Patire Júnior: Em 2000 houve um subsistema embarcado em uma plataforma sub-orbital (PSO) que se perdeu no mar por problemas com o foguete. Esta é a primeira vez que é construído no Brasil para controle de atitude e órbita embarcado em um satélite, inclusive com tecnologia brasileira em alguns equipamentos. O desenvolvimento é realizado em parceria com a empresa nacional Fibraforte, que faz parte do consórcio de empresas da PMM.
A empresa desenvolveu o subsistema baseado em especificações e acompanhamento do INPE e atualmente estão realizando os testes de qualificação com grande êxito nos resultados.

(Para SindCT, 14)