terça-feira, 20 de novembro de 2012

Pesquisas abrem caminho para o avanço do tratamento do câncer

Por Shirley Marciano

Física nuclear e pesquisadora aposentada do INPE, Dra. Raquel Paviotti Corcuera, compôs a equipe que recebeu prêmio Nobel da Paz 2005 por trabalhos desenvolvidos junto à Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA. O prêmio foi um reconhecimento pelo projeto para o uso pacífico e seguro da energia nuclear.
A pesquisadora veio morar em São José dos Campos em 1978, quando foi contratada pelo DCTA para trabalhar em projetos na área nuclear. Anos depois, em 1994, deixou o DCTA e ingressou no INPE. Raquel nasceu em Córdoba, na Argentina, e é naturalizada brasileira. Ela trabalhou na AIEA, em Viena, na Áustria, entre 1997 e 2004.

A pesquisadora aposentou-se pelo INPE em 2007, embora confesse sentir vontade de continuar trabalhando. Porém, por causa da Fibromialgia, doença de dores crônicas, resolveu que estava na hora de fazer uma pausa.

Jornal do SindCT: O que representou para toda a equipe o recebimento desse importante prêmio, que é um reconhecimento internacional?


Dra. Raquel Paviotti Corcuera: Foi muito importante para a AIEA receber o Prêmio Nobel da Paz em 2005. Ele foi atribuído conjuntamente a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e ao Diretor Geral naquela época, o Dr. Mohamed El Baradei, “por seus esforços para evitar que a energia nuclear fosse usada para fins militares e para assegurar que a energia nuclear para fins pacíficos fosse usada da maneira mais segura possível”.


SindCT: Como ocorreu a indicação? 
Dra. Raquel: O da Paz é um dos cinco Prêmios Nobel, junto aos de Física, Química, Fisiologia/Medicina e Literatura que são entregues anualmente em Estocolmo, sendo o Nobel da Paz atribuído em Oslo. O Comitê Nobel Norueguês, cujos membros são nomeados pelo parlamento norueguês, tem a função de escolher o laureado pelo prêmio, que é entregue em dezembro de cada ano. No ano de 2005, o comitê achou que o trabalho da AIEA, durante os anos anteriores, a fazia merecedora de tal prêmio. A este respeito é importante lembrar o contexto histórico das relações entre os EUA e o Iraque, quando os EUA insistiam em dizer que o Iraque estava desenvolvendo armas nucleares, e os inspetores da agência argumentavam que não encontraram nada irregular naquele país.


SindCT: Quais foram as consequências científicas e pessoais após o prêmio?
Dra. Raquel: O valor do Prêmio Nobel é de aproximadamente 1,4 milhão de dólares. Sendo que, deste valor, o Diretor Geral recebeu a metade, que doou a uma entidade filantrópica do Egito. E a outra metade, aproximadamente 700 mil dólares, foi aplicado para projetos de cooperação técnica em países em desenvolvimento na área de saúde e alimentos.

Foi muito bom para a AIEA e para todos os funcionários terem recebido esse destaque em termos de reconhecimento do trabalho que a Agência faz internacionalmente, dentro da área de segurança nuclear, do uso em aplicações e no monitoramento de armas nucleares.

Em termos pessoais, é muito bom ter tido a honra de participar de uma equipe internacional como essa.

SindCT: Com relação à base de dados nucleares para produção de radioisótopos de aplicação terapêutica de tratamento de câncer, houve avanços? Em que estágio encontra-se esse projeto?
Dra. Raquel: Meu trabalho na agência se relacionou com a obtenção de dados nucleares para aplicações. O grande desafio foi conseguir que uma base espelho da fonte de dados da AIEA fosse instalada no Brasil para atender as necessidades da América Latina. O projeto tinha por titulo: “Centro Regional de Dados Nucleares da AIEA para América Latina”. Não só foi necessário lutar pelo desenho e o conceito, mas também pela ideia de trazer a base para a América do Sul, e enfrentar os países que disputavam ser sede, como México e Argentina.




Em 2000, a internet era ainda muito lenta e o projeto era vital para acelerar o acesso a dados confiáveis na América Latina e particularmente aqui no Brasil. Minha ideia era trazê-la para o INPE ou o DCTA, mas infelizmente nem um, nem o outro, tinha condições de conduzir o projeto. Então, ele acabou ancorado no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – Ipen, em São Paulo. Depois de 2 ou 3 anos, a Índia também ficou interessada no projeto e conseguiu implantar uma base espelho de dados da AIEA na Índia.

Projeto: “Development of a Database for Prompt Gamma-ray Neutron Activation Analysis”.



PGAA é um método não destrutivo de análise que pode ser feito “in situ” e detecta qualquer elemento da Tabela Periódica, do hidrogênio até o urânio. Esta base tem aplicações em ciência de materiais, química, geologia, mineração, arqueologia, meio ambiente, análise de alimentos e medicina.

Portal de acesso: http://www-nds.iaea.org/pgaa/


Projeto: “New International Reactor Dosimetry File, IRDF-2002”


Essa base de dados é essencial para melhorar a avaliação da vida útil de vasos de pressão de reator em usinas nucleares. Esta informação também tem uso importante na área médica.



Projeto: “Nuclear Data for Production of Therapeutic Radioisotopes”


Este projeto já terminou e fiquei muito feliz ao receber o livro publicado pela AIEA na minha última viagem à Viena, em setembro passado. Esses dados são importantes para a produção de radioisótopos de uso terapêutico em medicina. Neste projeto, por indicação minha na época, participaram colegas do ITA e do IEAv.

Portal de acesso:


(Para SindCT,19)

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